26/01/2017

Eu não me chamo MÃE!

A partir do momento em que aqueles dois traços apareceram deixei de ter nome. 

Começou logo nas primeiras consultas em que lentamente as Enfermeiras me começaram a baptizar ainda que a medo: a Mãe está de quantas semanas? 

As primeiras vezes achei imensa graça e esboçava um enorme sorriso para aquele que iria ser o meu novo estatuto, MÃE!

Depois a barriga vai crescendo, e vai crescendo também a confiança das Enfermeiras: Ó MÃE esse peso está acima do que é suposto! dos Médicos: Ó MÃE isso do sushi é que nem pensar! dos Farmacêuticos: Ó MÃE o seu médico receitou isto? dos Formadores de Pré Parto: Ó MÃE vai dar de mamar certo? dos Professores de Ginástica: Vamos embora MÃE, ou não está já mortinha para por um biquíni? dos Directores das Escolas: Ó MÃE não se preocupe que se houver vaga nós ligamos!

E sem saber ler nem escrever e ainda sem ter um filho nos braços, estou empossada de um verdadeiro estatuto e baptizada com um novo nome, MÃE! 

Chega o dia do parto e... agora sim, depois de 15 horas de trabalho de parto, de bufar e me contorcer com dores: ah Valente! Muito bem! Parabéns MÃE! meia atordoada (deve ter sido do clister) é a primeira coisa que oiço ainda antes de ela chorar! 

Depois vêm as Enfermeiras outra vez com aquela conversa que o meu A. às vezes também faz: Ó MÃE deixe-me lá ver essas mamocas! Se não tivesse sido cesariana, presumo que também dissesse: Ó MÃE deixe-me lá ver esse pipi! Really?! Sounds weird! 

Mas, ainda mais weird, very weird, e que, verdadeiramente me encanita (adoro encanita), são os casais que depois de serem pais se começam a tratar por MÃE e PAI! Ó MÃE o teu filho está a chorar! Ó MÃE passa-me essa perna de frango assado que tem tão bom aspecto! Ai PAI não faças isso que estão ali os miúdos! Isto não é romântico! Nada mesmo! Acreditem em mim!

E outra coisa que eu adorava, era encontrar a Educadora da minha filha na noite (a do meu filho já me chama pelo nome ufaaa) cada uma de nós com um gin na mão, e queria ver se ela ao som do Love You Better do Crazy White Boy (adoro esta musica) e com cara de “mas esta com dois filhos sai à noite” me conseguia dizer: Olá MÃE, está boa?

Deixem o "Ó MÃE" para os meus filhos, ok? 

♥️♥️♥️♥️

3 comentários:

  1. E quando eu regressei da licença que um dos meus colegas me tratava por mãe???? Levou umas descompostura e nunca mais me tratou assim (mas depois vi-o fazer o mesmo às mães seguintes)...
    Também não suporto o "ó mãe"...

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  2. Não me venham com desculpas que não conseguem decorar os nomes das mães todas. Eu trabalho com crianças há 17 anos, nunca tratei ninguém pelo nome nem por "mãe" ou "pai". É perfeitamente possível falar com as pessoas sem usar o vocativo (ou lá como se chama isso). Se eu consigo, é porque é possível. Fico muito contente que haja mais pessoas que não suportam isso. Pode ser que comece a mudar.

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    1. :)
      Pode ser que existam mais profissionais que se esforçam como a Ângela

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